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Agosto: mês vocacional
Agosto: mês vocacional

Por Pe. José Ricardo Mole, sdb

Introdução 

O mês de agosto é celebrado pela Igreja como o mês vocacional. A palavra vocação vem do Latim vocare, que significa chamar, e vocatio, que significa chamamento. Vocação é, portanto, chamamento de Deus.

Em cada semana aprofundaremos uma vocação específica.

O presente texto está organizado em quatro partes:

A primeira parte trata da plena comunhão com Deus como vocação fundamental do ser humano.

A segunda parte trata da vocação batismal, fortalecendo as suas três dimensões, com enfoque no sacerdócio comum dos fiéis.

A terceira parte trata do sacerdócio ministerial como intimamente ligado ao único sacerdócio de Cristo.

Por fim, a quarta parte aborda de forma básica a diferença entre o presbítero diocesano e o presbítero religioso. 

A nossa vocação fundamental é a plena comunhão com Deus 

Afinal, o ser humano é chamado por Deus para que?

A resposta dessa pergunta é muito importante, pois, diz respeito à busca fundamental que cada um de nós, crente ou não crente, faz cotidianamente. Todos queremos saber o que será da nossa vida.

Numa perspectiva mais atual, poderíamos dizer que a única e fundamental vocação do ser humano é realizar-se plenamente em Cristo. Um dia, Ele será tudo em nós (Cf. Cl 3, 11); habitará para sempre em nossos corações (Cf. Ef 3,17; Ap 21, 3) e transformará definitivamente as nossas vidas. Tudo será novo n’Ele (Cf. Is 43,19; Ap 21, 5). Haverá uma alegria verdadeira, pois, “Ele enxugará toda lágrima dos nossos olhos” (Cf. Ap 21, 4).

A felicidade plena e verdadeira é a meta da nossa vida. É para lá que apontam os ponteiros da nossa existência.

A comunhão plena com Deus é a nossa vocação fundamental. Na verdade, eu ousaria dizer que essa é a nossa única vocação. Todas as outras realidades a que chamamos de vocações específicas são modos como nós escolhemos viver a nossa vida, enquanto caminhamos nesse mundo, rumo à pátria celeste. Essa escolha se dá através do discernimento.

O discernimento, por sua vez, acontece a partir da escuta e do acompanhamento (Cf. Christus Vivit, 291-298). É necessário dedicar tempo para escutar a voz de Deus e saber o que Ele quer de nós. Além disto, a escuta deve ser acompanhada por um guia, que nos ajudará a interpretar os sinais de Deus nem sempre claros e evidentes. 

Vocação batismal: sacerdotes, profetas e reis 

A partir dos dons que temos, sentimo-nos atraídos para esta ou aquela vocação específica e vamos nos realizando nela, na medida em que assumimos a vida como dom de Deus. Assim, vamos antecipando um pouco do céu já, aqui e agora.

Em cada Domingo do mês de agosto, a Igreja propõe que meditemos sobre uma vocação específica. A primeira semana é marcada pela vocação do padre.

Uma primeira compreensão é necessária: todos nós, pelo Batismo, somos sacerdotes, profetas e reis.

Participamos todos do sacerdócio comum dos fiéis e, com isso, do único sacerdócio de Cristo (Cf. Hb 5). Como sacerdotes, apresentamos a Deus as nossas orações e ofertamos a nossa vida como sacrifício agradável.

Participamos também da missão profética de Cristo e, como Ele, somos chamados a passar pelo mundo fazendo o bem. Como profetas, anunciamos com alegria o Evangelho (Cf. Evangelii Gaudium, 1), denunciamos as injustiças e lutamos contra tudo o que causa divisão.

Como Reis, nos colocamos à serviço no mundo. Governamos as coisas terrestres, até que a pátria definitiva, a Cidade de Deus, seja uma realidade na nossa vida plenificada. 

O sacerdócio ministerial 

Destacamos nessa semana a dimensão sacerdotal do Batismo. Participantes do sacerdócio de Cristo estão também aqueles homens chamados a exercer o sacerdócio ministerial, isto é, os presbíteros, ou os padres, como são popularmente conhecidos. Tanto o sacerdócio comum dos fiéis, como o sacerdócio ministerial, estão intimamente ligados, cada um a seu modo, ao sacerdócio único de Cristo (C. Lumen Gentium, 10).

A missão do padre é “presidir a Comunidade de fé, como Cristo Cabeça, organizando e regendo o povo sacerdotal, oferecendo o sacrifício Eucarístico na pessoa de Cristo, em nome de todo o povo...” (Cf. Lumen Gentium, 10; Presbyterorum Ordinis, 4). “O ofício dos presbíteros, enquanto unido à Ordem episcopal, participa da autoridade com que o próprio cristo funda, santifica e governa o seu corpo” (Presbyterorum Ordinis, 2).

Tendo em vista o único sacerdócio de Cristo, o Concílio Vaticano II, prefere o nome presbítero a sacerdote (Cf. Lumen Gentium, 28). O sacerdócio de Cristo, porém, não é um sacerdócio cultual, como o do Antigo Testamento, mas um sacerdócio existencial (Cf. Taborda, 2011). Toda a vida de Jesus, na sua essência, foi sacerdotal, pois, Ele mesmo ofereceu-se em sacrifício.

Em suma, o sacerdócio só tem sentido se estiver intimamente ligado ao sacerdócio único de Cristo. A imagem que mais identifica o sacerdócio de Cristo é a do Bom Pastor. Tanto o sacerdócio comum dos fiéis, como o sacerdócio ministerial, devem ser compreendidos à luz de uma Igreja toda ministerial.

Um carisma entre os outros carismas, o sacerdócio ministerial entra na dinâmica do serviço de “direção, ao qual cabe a função de presidir em vista da unidade (Cf. Taborda, 2011). 

Presbíteros diocesanos e religiosos 

Dentre os presbíteros existem os chamados diocesanos e os religiosos.

Os presbíteros seculares, ou diocesanos, vivem o seu ministério no século, isto é, no mundo. Estão diretamente ligados a uma diocese e o seu superior é o Bispo Diocesano. Eles geralmente exercem o seu ministério numa paróquia, num território muito específico, vivendo o seu ministério numa comunhão com o clero local. Quase sempre moram sozinhos.

Já os padres religiosos, embora exerçam o seu ministério no território de uma Igreja Particular, estão vinculados, pela Profissão Religiosa, a uma Congregação, Ordem ou Instituto Religioso. Seu superior é o provincial, inspetor etc. Os padres religiosos (frei, monge, frater) exercem o seu ministério dentro de um carisma específico, de acordo com o espírito dos fundadores. Por exemplo, os padres salesianos vivem o Carisma de Dom Bosco, educando e evangelizando os jovens.

Diferentemente dos padres seculares, os religiosos vivem em comunidade, já que a vida fraterna é uma das características principais da Vida Religiosa. 

Referências 

FRANCISCO. Christus Vivit: Exortação Apostólica Pós-sinodal – Aos jovens e a todo povo de Deus. São Paulo: Paulinas, 2019.

FRANCISCO. Evangelii Gaudium a alegria do Evangelho: exortação apostólica do Sumo Pontífice ao episcopado, ao clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Loyola, 2013. 163 p.  

CONCÍLIO VATICANO II. Lumen Gentium: constituição dogmática sobre a Igreja. 23.ed.. São Paulo: Paulinas, 1965/2011. 142 p.  

CONCÍLIO VATICANO II. Presbyterorum Ordinis. São Paulo: Paulinas, 1965. 59 p. 

TABORDA, Francisco. A Igreja e seus ministros. Uma teologia do ministério ordenado. São Paulo: Paulus, 2011. 325 p.