Estamos comemorando mais um aniversário do nascimento de Dom Bosco. No contexto que o Brasil vive hoje, gostaria de lembrar apenas uma faceta deste santo que é um diamante na história da Igreja e do mundo: Dom Bosco e a mudança social que ele promove com o trabalho dos Oratórios e seu projeto educativo: "Em cada ano conseguimos colocar várias centenas de jovens com bons empreendedores com os quais aprenderam um bom ofício. Muitos retornaram às suas casas e famílias das quais haviam fugido; agora eram mais dóceis e obedientes. Não poucos foram empregados em famílias honestas (...) muitos deles encontraram trabalho nas bandas de música da guarda nacional ou nas bandas militares; outros continuaram seu ofício em nossa casa; um número importante está engajado no ensino; estes fazem seus exames regularmente ou ficam aqui em casa e vão como professores para as cidades onde são solicitados; alguns também fazem carreiras civis" (Notas históricas do Oratório de São Francisco de Sales, 1862).

Como diz P. Stella, um dos maiores pesquisadores do século que viveu Dom Bosco: "a partir de 1863, vemos uma multiplicação de colégios, hospícios, escolas para artesãos, escolas agrícolas, seminários abertos ou dirigidos por salesianos e sua preferência por internatos... O colégio salesiano contribuiu para alimentar, com uma sólida formação de jovens gerações, as forças católicas na Itália e no mundo".

Dom Bosco, como um jovem padre, viu, ouviu e soube compreender a realidade social de seu tempo e começou a trabalhar para tentar aliviar os efeitos desastrosos de uma incipiente revolução pré-industrial e um êxodo maciço de jovens do campo para a cidade. Eles eram, em sua maioria, imigrantes em busca de fortuna, excluídos da realidade social que estava emergindo incessantemente em sintonia com a nova ordem econômica.

Em Turim do século XIX, Dom Bosco percebeu que não bastava partir o pão da solidariedade com os mais necessitados, mas que era necessário alavancar os rígidos cânones pré-industriais e a nova economia burguesa a fim de provocar mudanças sociais. Tratava-se, na verdade, de dar mais àqueles que tinham menos e oferecer-lhes novas oportunidades.

O "trabalho dos Oratórios", como Dom Bosco chamou seu projeto - para nós hoje Oratório festivo, Centro Juvenil, CESAM - queria fazer dos jovens os protagonistas de seu próprio futuro, envolvê-los no seu desenvolvimento e na mudança social em meio a um mundo que nunca presta atenção suficiente aos mais vulneráveis.

Seus resultados foram mais que notáveis no campo da educação, formação e integração social: melhorou as condições de trabalho de seus jovens, elaborou os primeiros contratos de trabalho (o primeiro contrato de trabalho de Dom Bosco é do ano de 1852, antes ainda que o jovem Marx escrevesse o seu “Capital) garantindo direitos, colocou-se na vanguarda da formação profissional e, o mais importante, devolveu dignidade e um futuro a milhares de jovens. Seu projeto educativo-evangelizador ajudou-os a descobrir o quanto Deus os amava.

Era a outra revolução que era estranha às grandes ideias culturais e econômicas que estavam “fervilhando” nos países mais desenvolvidos da Europa. Dom Bosco promoveu mudanças sociais e vislumbrou outra realidade que ele se esforçou para realizar com todos os recursos à sua disposição. O de um mundo diferente no qual ninguém é excluído ou condenado a comer apenas as migalhas que caem da mesa do rico senhor.

Em tempos de crise no Brasil, a força utópica e a tenacidade daquele jovem padre de Turim são um estímulo para acreditar que outra realidade é possível mesmo em tempos, como o nosso, de mudança de paradigma, de poucas certezas e futuro incerto.

Nós, salesianos consagrados e leigos, somos os herdeiros dos sonhos de Dom Bosco. Os jovens do nosso Brasil nos desafiam a ser fiéis ao sonho de Dom Bosco.

Pe. Natale Vitali Forti, SDB

Inspetor Salesiano da ISJB