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Família reunida. Foto: Pixabay
A crise da família na crise de tudo

Por Pe. José Ricardo Mole, SDB, 13/08 às 13:40

 

No segundo domingo de agosto celebra-se o dia dos pais. Assim, a Igreja inicia a Semana Nacional da Família. Neste ano, o tema é “E a família, como vai? ”. Esse tema retoma a reflexão proposta para a Campanha da Fraternidade de 1994.

Somos todos convidados a rezar pelas famílias e, cada família, no seu âmago, pensar como tem sido a sua realidade e o que precisa mudar para que ela seja o espaço do primeiro de encontro com Deus e o berço da fé.

Do Batismo brota o Sacramento do Matrimônio

O Sacramento do Matrimônio brota do Sacramento do Batismo. Nele “ficou consagrada a capacidade de se unir em matrimônio como ministros do Senhor, para responder à vocação de Deus” (Amoris Laetitia, 75). O mesmo princípio das outras vocações específicas também deve orientar a vocação matrimonial: todos, pelo batismo, são sacerdotes, profetas e reis.

A família é sacramento do amor. Revela, na sua essência, a aliança de Deus com a pessoa humana. De fato, no Antigo Testamento as núpcias eram utilizadas como imagens da relação de Deus com o seu povo. Deus, na sua fidelidade, ama a todos os seus filhos, mesmo quando infiéis.

A Igreja doméstica e a iniciação à vida cristã

“O amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja” (Amoris Laetitia, 87). A família é a Igreja doméstica; ela é chamada a garantir que as novas gerações conheçam, amem Jesus Cristo e se tornem anunciadoras da Boa Nova.

O Magistério da Igreja apresenta quatro tarefas primordiais da família: a formação de uma comunidade de pessoas; o serviço à vida; a participação no desenvolvimento da sociedade; a participação na vida e na missão da Igreja (Familiaris Consortio, 17).

A família é a modelo comunidade para a Igreja. A comunhão é a sua característica principal, pois, é reflexo da plena comunhão de Deus com os seus amados filhos.

Na medida em que promove o amor e o crescimento pessoal dos seus membros, a família vai se tornando “fermento na massa”; a partir da educação e do desenvolvimento dos filhos, novos arautos da paz, da solidariedade e da justiça serão lançados no mundo, como semente em terra boa.

A família é participante no cuidado com a Criação. Por meio dela, Deus completa a sua obra (Cf. Familiaris Consortio, 28). Nos vários aspectos da vida humana, a família, alicerçada na Palavra de Deus, tem muito com o que contribuir. Por isso, o serviço à vida é a sua tarefa fundamental.

Vivemos numa sociedade muito complexa e desafiante. Por isso, o papel da família no desenvolvimento da sociedade é essencial. A falta de referências positivas e de uma educação baseada em valores cristãos sólidos comprometem assustadoramente as nações.

“A família possui vínculos vitais e orgânicos com a sociedade, porque constitui o seu fundamento e alimento contínuo mediante o dever de serviço à vida [...] (Cf. Familiaris Consortio, 42). Dessa maneira, é necessário grande zelo para com a instituição familiar.

A família é o lugar de humanização. O próprio Deus ao encarnar-se, fez-se humano no seio de uma família. Demonstra, assim, o seu apreço e o seu amor pela família humana.

Essa mesma família humana forma uma família maior: a Igreja. Nela é chamada a contribuir com a construção do Reino de Deus e a participar da sua vida e missão. A Igreja, por sua vez, “é antes de tudo a “Igreja Mãe” que gera, educa, edifica a família cristã, operando em seu favor a missão de salvação que recebeu do Senhor” (Cf. Familiaris Consortio, 49).

Algumas atitudes práticas na vida familiar

Costuma-se dizer que a família está em crise e que cada vez mais vai se dissolvendo de maneira assustadora. Na verdade, tudo está em crise. A vida é uma crise. O fato de sermos humanos já significa que sempre estaremos em crise.

Sendo assim, podemos interpretar a crise de duas maneiras: a primeira é por meio de um olhar pessimista, que não vê solução; a segunda enxerga a crise como uma oportunidade de crescimento. Enxerga-a como um processo de acrisolamento, que pode gerar uma vida nova, se superada de maneira correta.

A superação da crise poderá se dar por meio de algumas atitudes muito concretas que toda família é chamada a desenvolver:

·         Capacidade de diálogo: o diálogo na família é fundamental. Ele ajudará a promover o conhecimento e o respeito mútuos que, por sua vez, irão garantir a integridade da identidade do outro. O problema começa quando se deseja anular o que o outro pensa para que se prevaleça apenas uma ideia.

·         A oração como relacionamento consciente com Deus: a vida da família precisa ser rezada (Cf. Familiaris Consortio, 59). A oração familiar é simples, mas, eficaz. Os grandes desafios do nosso tempo exigem profundo discernimento. Somente com a força e a proteção de Deus é possível passar pelas tempestades do mundo sem perder o rumo da navegação. Uma família que reza não se deixará abater pelo desânimo, nem pelo desespero, mas viverá com serenidade o tempo presente.

·         No tempo das conexões dedicar tempo ao outro: a vida é muito curta e o tempo muito ligeiro. O mundo conectado trouxe grandes avanços para vida das pessoas; trouxe, também, grandes desafios. As conexões tornam-se desafios quando impedem as pessoas de se relacionarem entre si, olhando nos olhos. Para que a família consiga crescer no amor mútuo é necessário que seus membros dediquem tempo um ao outro. Às vezes, será preciso desconectar-se para conectar-se.

·         Discernimento: costuma-se achar que o discernimento deve ser vivido somente quando se tem que tomar grandes decisões. Na verdade, ele deve ser uma atitude permanente de todos nós. Desde olhar para os dois lados para se atravessar a rua, até saber se deve ou tomar essa ou aquela decisão no rumo da própria vida, o discernimento precisa ser constante. É mister que as famílias dediquem mais tempo ao discernimento. As decisões necessitam ser tomadas de maneira mais reflexiva e assertiva. Somente o sério discernimento oferecerá essa possibilidade.

·         Não tomar decisões em momentos de crise ou em situações de grande tensão: é natural que aconteçam conflitos no seio familiar. É comum divergências de pensamentos, ideias e vontades. Nem tudo deve ser aceito por todos. É preciso respeitar as diferenças. Porém, não se deve tomar decisões no “calor do momento”. Certamente, serão decisões pouco refletidas, que poderão gerar grande arrependimento e sofrimento. Algumas terão consequências catastróficas para sempre.

Conclusão

A família continua sendo de grande valor e de suma importância para a Igreja e para a sociedade.

A crise sem precedentes na instituição familiar faz parte da grande crise que o mundo vive. Não podemos fugir de viver uma constante crise. Tudo está em crise desde quando fomos colocados para fora do aconchego da barriga das nossas mães. Essa crise, porém, nem sempre é ruim se enxergada numa ótica resiliente; é um acrisolamento para o crescimento pessoal.

A salvação da família está justamente na capacidade de superar as crises por meio de atitudes muito concretas, fortalecendo os vínculos, vivendo o perdão e, sobretudo, voltando sempre o olhar para Jesus, o primeiro amor.

E a família, como vai?

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